Visivelmente feliz por vê-lo, explica-lhe que foi seu aluno, há quinze anos, nela turma do 9º ano tão difícil… Oh, não deve guardar uma excelente recordação dele porque não brilhava pelos seus desempenhos escolares, mas ele lembra-se muito bem de si! Lembra-se especialmente que era, na época, apaixonado por aquele romance que lhes leu: isso marcou-o e ele pensa nisso com frequência… Entabula conversa: com toda a evidência, representa alguém importante para ele. A ponto de se sentir um pouco incomodado por não o ter reconhecido imediatamente. Ele evoca um dos colegas que encontrou recentemente e com quem partilhou algumas recordações… O passado vai-se esclarecendo um pouco. Mas, visivelmente, não consegue lembrar-se muito bem do aluno em questão. Tenta, em vão, imaginar o adolescente de catorze anos por detrás do adulto que se encontrar à sua frente… Evidentemente que não revela nada da sua perplexidade e saúda-o calorosamente: “Fiquei mesmo muito contente de te… desculpe, de o ver”.
Enquanto ele se afasta, pergunta-se a si próprio como compreender o que acaba de se passar. Acha isso estranho: não fez nada de especial a seu respeito e a paixão pelo romance em questão já o deixou há muito tempo. E depois, sobretudo, acha que os seus alunos de hoje, tal como os de ontem, não parecem especialmente contentes por encontrá-lo nas aulas todas as manhãs. Nenhum entre eles lhe manifestou alguma vez o mínimo reconhecimento. E sempre os achou indiferentes, circunspectos, leia-se até agressivos relativamente a si.
É que os adolescentes tomam como um dever fingir desprendimento. Nunca confessam o interesse que têm por aquilo que lhes diz. Por muito que coloque todo o seu coração e energia na sua profissão, eles continuam a fazer-se de desenvoltos. Aos olhos dos colegas, não se tem o direito de gostar de um professor! Nem de confessar que se está cativado por uma disciplina, seduzido pela paixão com que um adulto fala do que sabe e do que transmite. Isto não impede que se admire o professor em segredo. Isso também não significa que se seja totalmente insensível ao que ele diz e ao que ele faz… Mas será preciso esperar muitos anos para ousar confessar-lho.
Os professores, assim como os pais, têm frequentemente a impressão de se desgastarem em vão em situações difíceis. Por vezes, desesperam ao verem os seus esforços não darem em nada e estão prontos a baixar os braços. É que queriam ver imediatamente os efeitos do que fazem… enquanto que, justamente, os adolescentes empenham-se em escondê-los! Não é uma razão, evidentemente, para vacilar na indiferença. É uma boa razão, pelo contrário, para não desesperar relativamente à educação.
Philippe Meirieu